quinta-feira, 27 de outubro de 2011

AVALIAÇÕES DO 9º ANO

I UNIDADE                    II UNIDADE                 III UNIDADE                     IV UNIDADE

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PROVAS COMENTADAS

                
   6º ANO
           7º ANO


                                                                                 

domingo, 23 de outubro de 2011

O Deus cartesiano como garantia de conhecimento das coisas materiais

Com a demonstração da existência de Deus e do seu atributo de veracidade, as regras do método encontraram a sua confirmação definitiva... Deus, não sendo enganador, não me envia essas idéias imediatamente, nem sequer por meio de qualquer criatura que não as contenha realmente. Ele infundiu-me uma forte inclinação para crer que elas me são enviadas por coisas corpóreas e por isso enganar-me ia se elas fossem produzidas por outro. (Bréhier, 1977; p. 57).

Esta citação justifica o título desta parte do texto, ou seja, que o Deus de Descartes é a garantia da objetividade; mas por quê?
Pois enquanto um bom Deus ele não vai me impedir que conheça as coisas. A existência do Deus derruba o gênio embusteiro. Mas como se dar a prova do mundo?
Concebo, digo, facilmente que a imaginação pode realizar-se dessa maneira, se é verdade que há corpos; e, uma vez que não posso encontrar nenhuma outra via para mostrar como ela se realiza, conjeturo daí provavelmente que os há. (Descartes, 1973b; p. 139)

Há no espírito uma faculdade passiva, que senti que recebe das coisas sensíveis algumas idéias, como cadeira, mesa etc. Além do que há também uma outra faculdade, que é a ativa, esta por sua vez forma e produz as idéias (imaginação),  no entanto, essa faculdade não vem do espírito, da res cogitans, visto que a essa substancia se atribui o pensamento, já as idéias de cadeira, mesa, produzidas por esta faculdade ativa, não poderá vir de mim, mais sim de uma outra substancia, até porque as idéias que me são enviadas por ela muitas das vezes é sem que haja minha participação consciente. Sendo assim essa substancia só pode ser, ou Deus, ou um corpoDeus não é certamente, haja visto que o mesmo não me envia tais idéias, pois ele não é um enganador. Assim cabe admitir que existe uma substancia diversa, diferente do cogito e de Deus e que possui grandeza, movimento e outras qualidades tais cheiro, sabor e cor.
Também se Deus existe e ele é bom, como fora provado, a imagem que o homem faz do mundo não pode ser ilusão, mas sim um mal direcionamento da sua razão, o direcionamento correto da razão, o método preciso tende a levar o homem a verdade, ao conhecimento, claro e certo.
 Atingido os pilares da filosofia, cabe ao homem fazer agora ciência para bem viver.





Referências

ABBAGNANO, N. História da Filosofia Vol. VI. São Paulo: Editora Presença.
BRÉHIER, E. Historia da Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou.
DESCARTES, R. Carta. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973c.
______________. Discurso do Método. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973a.
______________. Meditações. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973b

O caminho cartesiano rumo à demonstração da existência do Eu, de Deus e do mundo.


Tendo em vista o descontentamento coma educação que recebera e percebendo que essa educação não era somente restrita a instituição onde estudara, mas sim, um padrão educacional condicionado por um pensamento que estava presente em toda Europa, Descartes se propôs a buscar o “conhecimento claro” não mais nos livros ou através de instruções dos Doutos, mas no livro do mundo e em si próprio:
Mas, depois que empreguei alguns anos em estudar assim no livro do mundo, e em procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a resolução de estudar também a mim próprio. (Descartes, 1973a; p. 41)

Desta forma, Descartes propõe um abandono das opiniões que recebera, haja visto, que percebera em suas andanças a insegurança das mesmas e uma espécie de apatia para com a vida. Determina-se então a começar do começo, abandonando os juízos, que historicamente fora contaminado por diversas opiniões. Ver-se-á que a proposta cartesiana inicia-se em refletir acerca das opiniões que recebera e mostrando quanto são inseguras, determina-se a substituí-las por outras melhores ou encontrar razões que justifiquem as mesmas após serem analisadas. Vejamos como isso se dá. A principio cabe ao filosofo definir o método sob o qual vai atingir os pilares de sua filosofia:
Não quis de modo algum começar rejeitando inteiramente qualquer das opiniões que porventura se insinuaram outrora em minha confiança, sem que aí fossem introduzidas pela razão, antes de despender bastante tempo em elaborar o projeto da obra que ia empreender, e em procurar o verdadeiro método para chegar ao conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz. (Descartes, 1973a; p. 44)

O método é em Descartes a possibilidade de qualquer e todo homem atingir o conhecimento seguro, o historiador da filosofia Nicola Abbagnano vai dizer que o método cartesiano é o que possibilita a qualquer homem que faça do uso correto da sua razão, não se enveredar pelo falso:
Descartes define o método como o conjunto de “regras certas e fáceis que, por quem quer que sejam exatamente observadas, lhe tornam impossível tomar o falso pelo verdadeiro”. (Abbagnano, 1992, p. 44).

E em que consiste o método cartesiano? No Discurso do Método, Descartes nos fala acerca desse método; que segundo o filósofo era composto por quatro preceitos que deveria substituir o grande número de regras da lógica.
O primeiro preceito é o da evidência, que se define por não aceitar como verdade aquilo que não fosse claro o suficiente para estar isento da dúvida. Este preceito está atrelado à noção de imediato, ou seja, aquilo que não tem mediação é um trabalho puro da mente, que nasce unicamente da razão, por meio da intuição.
O segundo preceito é o da análise, neste o filosofo divide o problema em partes, em quantas partes for necessário para melhor resolver o problema.
O terceiro preceito é o da síntese, este refere-se a ordenação, iniciando-se sempre pelo o que é mais simples, passando gradativamente aos pensamentos mais complexos.
O quarto e último preceito é o de enumerar, neste é feita a revisão para garantir que nada fora omitido.
Descartes levou o método, que em si, consiste em duvidar de todo conhecimento até então tido como verdadeiro e os meios aos quais se chegam aos mesmos; a tudo que existe, para ver assim se existia algo sobre o qual não restasse a mínima dúvida, existindo, esse sim poderia ser tido como verdadeiro, claro e seguro.
O primeiro conhecimento que será posto ao crivo da dúvida metódica será o conhecimento sensível, sob este conhecimento René Descartes irá dizer que o mesmo, os sentidos, já nos enganaram algumas vezes e se já procedeu em nos enganar uma vez quem garante que não possa nos enganar sempre.
Ao crivo da dúvida Cartesiana recai também a crença nas coisas matérias, tais como: meu corpo, sol, cadeira, mesa, céu, vejamos como o filosofo demonstra a insegurança da crença da existência de tais entes:
Todavia, devo aqui considerar que sou homem e, por conseguinte, que tenho o costume de dormir e de representar em meus sonhos, as mesmas coisas, ou algumas vezes menos verossímeis, que esses insensatos em vigília. Quantas vezes ocorreu-me sonhar, durante a noite, que estava junto ao fogo, embora estivesse inteiramente nu dentro do meu leito? Parece-me agora que não é com olhos adormecidos que contemplo este papel; que esta cabeça que eu mexo não está dormente ...o que ocorre no sono não parece ser tão claro nem tão distinto quanto tudo isso...lembro de ter sido muitas vezes enganado, quando dormia... vejo tão manifestamente que não há quaisquer indícios concludentes, nem marcas assaz certas por onde se possa distinguir nitidamente a vigília do sono.
(Descartes, 1973b; p. 94)

Em outras palavras Descartes vai proceder da seguinte maneira para chegar à primeira certeza: se no sono vejo objetos que vejo quando estou acordado o que pode me garantir que não vivo a sonhar? Ou que tudo isso a que denomino mundo, objetos, não passem de ilusões, assim como no sonho? O que pode distinguir a vigília do sono?
Dentro dessa exposição de insegurança e dúvida quanto à certeza das coisas matérias e dos sentidos, o filosofo lança a idéia da figura do gênio maligno, peça importante no pensamento cartesiano.
Com o gênio onipotente, no entanto embusteiro e maligno a dúvida alcança seu ápice, nela, os conhecimentos tidos como mais certos, tais como a matemática também é tido como incerto; basta levar em conta que dois e três são sempre cinco, porem com o gênio maligno quem garante que é realmente assim. “Será que este não vive a me enganar quanto a essas coisas tidas como exata também?” Não tendo segurança do conhecimento matemático, o filosofo dá como incerta todas as crenças. No entanto, na radicalidade da dúvida Cartesiana apresenta-se algo do qual o filosofo não pode duvidar, que é o fato de que para duvidar é preciso de que exista algo que a isso faça.
Pode-se não crer que existam as coisas, que tudo não passa de um sonho, que um gênio maligno vive a nos enganar, todavia, notar-se-á, que para que haja algo para ser enganado, que duvida das coisas, cuja existência ainda não fora provada, se faz necessário que exista algo, sendo assim existo pelo fato de duvidar. A própria dúvida é a condição da existência desse eu, que tem como atividade o duvidar, que independe das coisas materias, seja céu, corpo, matemática, Deus.
 Na segunda meditação, Descartes nos mostra as razões da existência dessa primeira verdade:
Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que eu me persuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou , se ele me engana; e. por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que concebo em meu espírito. (Descartes, 1973b; p. 100)

Para auxiliar e reforçar o argumento referente a essa primeira prova utilizaremos esta citação do historiador de filosofia Émile Bréhier:

A função do cogito em Descartes é dupla: dá um tipo exemplar de uma proposição verdadeira e prepara a distinção radical de alma e corpo. O cogito é certo, porque eu percebo clara e distintamente a união entre meu pensamento e minha existência. (1977; p. 68)

Assim o filósofo chega a primeira verdade, a primeira prova, a da existência do cogito, ou seja, a de que existe uma substancia; cabe agora definir o que é está coisa cujo atividade  é o pensar.
Na segunda meditação Descartes vai definir os atributos dessa coisa ao qual denominou alma, espírito, res-cogitas, eu; o atributo coerente é o pensar, mas o que será pensar? O que será essa coisa que pensa? E o que Descartes nos diz agora?
É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e que sente. (Descartes, 1977b; p. 103).

Depois do percurso, do auxilio de Bréhier, Abbagnano e, sobretudo do próprio Descartes, parece-nos claro o caminho que percorrera o filósofo para chegar a demonstração do cogito.
Definida a estrutura do cogito, da alma, como tendo atributos que fora acima citados e como sendo distinta do corpo e independente do mesmo, Descartes se propõe a verificar se ainda existe outra verdade que não a do cogito; ele começa a questionar-se acerca das idéias que se encontram em sua alma. Essas idéias que sabe que existe, já que faz parte da estrutura do que fora definido como alma, eu ou espírito; cabe, entretanto, agora, descobrir se as coisas sobre as quais tenho idéias, realmente existem; tais como cadeiras, céu, meu corpo, Deus e tantas outras. Como saíra Descartes desse solipisismo?
Para se chegar a uma posição clara de uma próxima verdade, o filosofo francês, busca, antes, classificar as idéias, evoquemos uma passagem da história da filosofia do historiador Nicola Abbagnano para nos situar:


Descartes divide em três categorias todas as idéias: as que me parecem haverem nascido em mim (inatas); as que me parecem estranhas ou vindas do exterior (adventícias); e as formadas ou encontradas por mim próprio (fictícias). À primeira classe de idéias pertence a capacidade de pensar e de compreender as essências verdadeiras, imutáveis e eternas das coisas; à segunda classe pertencem as idéias das coisas naturais; à terceira, as idéias das coisas quiméricas ou inventadas. (1992; pp. 52–53).

Procedendo assim, o filosofo vai questionar a objetividade dessas idéias que representam as coisas materiais; ele define essas idéias correspondentes as coisas materiais, como sendo possíveis de serem criadas por ele mesmo, já que ele possui as imperfeições que essas idéias também têm; todavia a idéia de Deus, de um Ser imutável, perfeito, onipresente, onipotente, onisciente, como poderia ter sido fruto do seu espírito visto que não possui nenhuma dessas perfeições? Sendo que o perfeito não é fruto do imperfeito, tais idéias de perfeição, onisciência, imutabilidade não foram criadas por esse ser imperfeito que é o cogito, mas sim foram colocadas no espírito por um ser que as possui e é perfeito, ou seja, por Deus:
Portanto, resta tão-somente a idéia de Deus, na qual é preciso considerar se há algo que não possa ter provindo de mim mesmo?Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável, independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são (se é verdade que há coisas que existem) foram criadas e produzidas. Ora, essas vantagens são tão grandes e tão eminentes que, quanto mais atentamente as considero, menos me persuado de que essa idéia possa tirar sua origem de mim tão-somente. E, por conseguinte, é preciso necessariamente concluir de tudo o que foi dito antes, que Deus existe; pois ainda que a idéia da substância esteja em mim, pelo próprio fato de ser eu uma substancia, eu não teria, todavia, a idéia de uma substância infinita, eu que sou um ser finito, se ela não tivesse sido colocada em mim por alguma substância que fosse verdadeiramente infinita. (Descartes, 1973b; pp. 115-116)  

 Essa é a prova pela causalidade, por onde Descartes prova a existência do Deus, que é causa, como produtor das idéias perfeitas (onisciência, onipotência, onipresença), sendo essas idéias, efeito, que reside no imperfeito que é a res cogitans.
Para dar mais fundamentação à existência do Deus Descartes busca um argumento ontológica, vejamos como Abbagnano nos mostra isso:

Mas já a escolástica havia fornecido uma prova que pretendia ir da simples idéia de Deus à existência de Deus: a prova ontológica... Como não é possível conceber um triangulo que não tenha os ângulos internos iguais a dois retos, assim não é possível conceber Deus não existente. (1992; p. 54).

Este argumento diz que um ser que é perfeito, que possui todas as qualidades, tais como, imutabilidade, onipresença, onisciência, porque, iria não ter justamente a qualidade da existência, destarte, a existência está atrelada a perfeição e Deus que é perfeito não poderia estar isento desta qualidade que é a existência.
Daí resulta a prova da existência de mais uma substancia, a saber, a res infinita, Deus.
Logo, a figura do malin génie cai por terra, a prova do Deus que é perfeito e bom, tira solapa a idéia do embusteiro.





Referências

ABBAGNANO, N. História da Filosofia Vol. VI. São Paulo: Editora Presença.
BRÉHIER, E. Historia da Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou.
DESCARTES, R. Carta. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973c.
______________. Discurso do Método. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973a.
______________. Meditações. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973b


Descartes: O Homem que assentou as bases da Modernidade.


O período do final do século XVI e início do século XVII, que vê refletir de forma mais densa as transformações proporcionadas pelas descobertas, seja nas doutrinas religiosas, filosóficas ou científicas, será um período movido por um pessimismo teórico, denominado ceticismo. Mas o que é isso o ceticismo? E qual a razão da sua origem?
O ceticismo é uma corrente de pensamento que nasce no momento em que a mentalidade do homem europeu se depara com uma série de acontecimentos que colocava em dúvida todo o pensamento até então construído, todo pensamento até então alicerçado sobre a égide do catolicismo.
A época é marcada por uma revolução de acontecimentos; as navegações levam o homem europeu a conhecer outras civilizações e outras maneiras de conhecimentos, de outros modos de vida, de religiosidade. As descobertas na física, os experimentos e concepções de Galileu, de Copérnico; tudo isso leva a uma tendência de dúvida quanto a teologia, quanto as explicações calcadas na bíblia e no pensamento aristotélico; estas explicações, que por sua vez, já não tinha validade frente a realidade, frente a tudo que se apresentava ao homem da época se rompe e abre espaço para o surgimento de um pensamento de incerteza, de incapacidade do homem de conhecer verdadeiramente o mundo, Deus e a si mesmo.
Mas toda a crise, busca, ou abre espaço para respostas, profundas e paradigmáticas, que surgem, sobretudo, do seio de um grupo de mentes pensantes ou de uma mente pensante que consegue, em algumas obras, explanar a realidade vigente, seus problemas, bem como, sugerir respostas para tais problemas . 
Com isso, em 1596 nasce René Descartes, o homem que buscaria dar respostas para os diversos problemas de sua época.  Oriundo de uma família de burgueses da França, Descartes, aos 10 anos começa os estudos, vai estudar em um Colégio Jesuíta, cujo ensino é arquitetado nas obras de Aristóteles. Assim sendo, Descartes recebeu uma educação do seu tempo, ou seja, presa as amarras de padrões filosóficos que já não mais se sustentava frente à realidade. Notar-se-á, todavia, que como um exímio buscador do “conhecimento claro e seguro”, nutriu-se das letras, absorveu o conhecimento passado pelos jesuítas e constatou a deficiência desses conhecimentos. Assim se expressa o filósofo na seguinte citação:
Fui nutrido nas letras desde a infância, e por me haver persuadido de que, por meio delas, se podia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida, sentia extraordinário desejo de apreendê-las. Mas logo que terminei todo esse curso de estudos, ao cabo do qual se costuma ser recebido na classe dos doutos, mudei inteiramente de opinião. (Descartes, 1973a; p. 38).

O que constatara Descartes é que os vastos ramos, filosofia, medicina, jurisprudência, matemática, teologia, já não mais assumia o seu papel na vida, não era mais racionalmente satisfatórios; já estava tão distante da realidade que justificava a posição dos céticos. Eram frutos de constantes dúvidas e não assumiram um caráter de universalidade e de aplicabilidade. Não eram utilizada para se fazer ciência:           
Comprazia-me, sobretudo com as Matemáticas, por causa da certeza e da evidencia de suas razões; mas não notava ainda seu verdadeiro emprego, e, pensando que serviam apenas às artes mecânicas, espantava-me de que, sendo seus fundamentos tão firmes e tão sólidos, não se tivesse edificado sobre eles nada de mais elevado... Da filosofia nada direi, senão que, vendo que foi cultivada pelos mais excelsos espíritos que vieram desde muitos séculos e que, no entanto, nela não se encontra ainda uma só coisa sobre a qual não se dispute, e por conseguinte não seja duvidosa ... Julgava que nada de sólido se podia construir sobre fundamentos tão poucos firmes. (Descartes, 1973a; p. 40).

Teriam os mesmos céticos razões? Seria somente possível conhecer, seja o homem, o mundo e Deus, somente pela luz da teologia, presa a fé, dogmas e as escrituras? Não haveria a possibilidade de uma nova razão para demonstrar as questões que historicamente foram colocadas em extrema dúvida: o homem (a alma), Deus e o mundo? Assim se expressa Descartes na carta destinada aos Senhores Deao e Doutos da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris:

Sempre estimei que estas duas questões, de Deus e da alma, eram as principais entre as que devem ser demonstradas mais pelas razões da filosofia que da teologia: pois, embora nos seja suficiente, a nós outros que somos fieis, acreditar pela fé que há um Deus e que a alma humana não morre com o corpo, certamente não parece possível poder jamais persuadir os infiéis de religião alguma, nem quase mesmo de qualquer moral, se primeiramente não se lhes provarem essas duas coisas pela razão natural”. (Descartes, 1973c; p. 38).

Com isso Descartes propõe a busca de uma nova maneira de explicar as causas primeiras: o mundo, o homem e Deus, “pela luz natural”;  a verdade teológica, a que provém de Deus, das escrituras e que encontra apoio nas interpretações feitas dos escritos aristotélicos, perdera a validade frente a realidade, cabia ao homem buscar a verdade, a clareza e a exatidão pelas razões da filosofia:
A filosofia, diz-nos Descartes, é o estudo da Sabedoria, isto é, um ‘perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode saber, tanto para a conduta da sua vida como para a conservação da saúde e a invenção de todas as artes’; mas, a fim de que este conhecimento seja tal, acrescenta, ‘é necessário que seja deduzido das causas primeiras’(carta do autor a quem traduziu o livro dos princípios). (Gaston Granger, 1973; p. 13) 1.

A proposta cartesiana parece ser muito clara, construir a base para extinguir a dúvida, a incerteza e possibilitar ao homem conhecedor da realidade utilizar-se da ciência para atingir a felicidade.
A ambição do filosofo é, portanto, universal; seu alvo é construir uma doutrina que baste à prática da vida terrestre e, como ele o afirma em muitas passagens, que nos permita atingir a felicidade. (Gaston Granger, 1973; p. 13).

Como já vimos, a proposta de Descartes consiste em encontrar uma certeza que seja clara, imediata, universal, que possibilite alcançar um consenso; o meio para se chegar a essa verdade não seria mais a teologia, mais sim a razão natural, a filosofia, a metafísica, a fim de solapar as posições céticas e o pensamento que já não mais correspondia a realidade, e com isso, abrir espaço a nova ciência que começava a surgir.
                              

Referências

ABBAGNANO, N. História da Filosofia Vol. VI. São Paulo: Editora Presença.
BRÉHIER, E. Historia da Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou.
DESCARTES, R. Carta. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973c.
______________. Discurso do Método. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973a.
______________. Meditações. In Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973b.