sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Esse vídeo, um tanto cômico e ao mesmo tempo inteligente,  descreve um pouco a situação que estamos vivendo em nossos dias em diversas áreas do conhecimento e  nos seus diversos campos de construção e/ou reflexão. Vivemos o momento em que os centros educacionais não podem mais construir e levantar muros para impedir que as tecnologias cheguem as salas de aula, onde alguns educadores, sustentados por discursos saudosistas, insistem em se apegar e primaziar os instrumentos tradicionais das instituições de ensino, existindo entre estes, aqueles que se arvoram em afirmar que é o fim da atividade do professor, pois as tecnologias vão substituir o docente na sala de aula.
 Todo esse clima me faz lembrar o período em nossa história, onde pela falta de reflexão e análise, alguns professores, ao visualizarem as TIC, assemelham-se com a classe média da década de 60, que via o comunista como um sujeito que come as crianças.  Mas, não cabe aqui unicamente apontar a realidade. Existe isso? Existe e é uma espécie de crise. O que é essa crise? Até um certo ponto sabemos. Como funciona essas tecnologias, seus benefícios e seu uso e abuso? Também sabemos. Mas será que sabemos o porque do medo dos professores e qual a raiz desse medo? Qual o grande problema em se relacionar com esse novo, que se analisarmos bem, não é tão novo assim? E de que forma a filosofia está atuando neste campo?  Vou além, como a filosofia poderá ajudar a compreender esse impasse no campo da educação e também demarcar  limites do que é real e do que não é real? Pois, podemos pensar também que, além do medo de muitos professores, quando se fala nessas ferramentas inovadoras, existe também a paixão cega de alguns que vêem nas tecnologias, uma espécie de salvação. Assim, o trabalho que apontamos aqui, ainda que no princípio seja positivo, quando buscamos mostrar os benefícios das TIC´s e encontrar no professor  os elementos que torna essa realidade tão apavorante, é também negativo, uma vez que busca encontrar aquilo também que as tecnologias não podem fazer e que desde sempre é campo de atuação do humano, do saber, ser e sentir docente/discente e que precisa ser retomado e re-significado, cito alguns pontos, a escola como campo de experiência dialógica, onde mestre e discípulo  refletem sobre a realidade, conhecendo e produzindo saberes. Momento também onde uma roda para analisar, discutir, pensar sobre um livro, sobre o como fazer leitura e pesquisa.  
Deste modo, já neste pequeno esboço, identificamos dois problemas que chamarei de; O da fobia e o do pathos. E diante deles, lanço a pergunta, o que é real nos dois? O que é real diante dessa realidade que se apresenta das tecnologias e seu uso nas salas de aula, quanto a recepção dos docentes? Essa será nossa tentativa em um próximo momento, o de tentar responder a essa questão, pois pensamos que, responder a essa questão será como identificar a pedra que está impedindo o curso do rio. Por ora contentemos-nos em mostrar alguns poucos aspectos introdutórios sobre a escola vigente e as novas escolas. 
       É comum os discursos que circulam, desde as escolas fundamentais, até os centros de pesquisa universitários e nestes discursos encontramos afirmações em torno do fim da atividade do professor, da verdade que a maquina vai substituir o homem na sala de aula, entre vários outros. 
Mas, creio que, mais do que nunca, nos é dada a demonstração que os novos instrumentos para uma educação em consonância com seu tempo não pode e nem deve desprezar a escola vigente, alias, ela deve ser mais um mecanismo de transformação e enriquecimento, para garantir reflexão, crítica e mais criatividade, dinamismo e atualidade no processo de ensino e aprendizagem, fornecendo ao educador as dimensões estruturantes disponíveis e possíveis para sua formação na contemporaneidade. Isto, porque a questão que é pertinente na escola vigente, se faz tão viva e até mais atual no olhar das novas educações, ou seja, a reflexão sobre o mundo e a atuação, não só reprodutora, mas pensante, construtora e problematizadora sobre o mundo complexo da contemporaneidade. Deste modo a educação muda sim, mas trazendo os elementos ainda vivos e pertinentes dos sistemas anteriores, muda percebendo que o mundo muda e, sendo a educação um processo de compreensão por parte do educador, da realidade e dos movimentos no espaço que o circunda, acerca do que está acontecendo, é necessário que o educador mude no que se refere, primeiro no seu olhar, no ato de ver o novo, é preciso enxergar com curiosidade, abandonando os preconceitos, neste sentido eu evoco a capacidade dos filósofos de se espantarem, se encantarem com o que se mostra e querer usa-lo para compreender a realidade e ser um sujeito do seu tempo. Segundo, mude para se apropriar dessas ferramentas, conhecendo-as e usando-as para fazer educação. E terceiro, mude para perceber que só essas ferramentas não ajudam, na verdade a tecnologia não é nada sem a capacidade crítica do docente que consegue tornar o ambiente um campo para reflexão e análise, que  criei situações para despertar nele e no estudante a sede pelo saber, sentir e ser e que sobretudo, compreenda essa nova realidade como um novo cenário com elementos dos cenários anteriores, só que mais sofisticados e mais avançados, que entretanto, não muda e não substitui a eterna ansia humana que é a do saber e usar este saber para conhecer, se auto-conhecer e realizar-se. Anseio que atravessa o tempo, vindo dos tempos mais remotos, tais os sumérios, egípcios, passando e tendo um certo apogeu com a Grécia e Roma, chegando até nossos dias com essa dita contemporaneidade, sem entretanto, esgotar a pergunta arcaica, o que é isso que vivemos agora? O que é isso a nossa volta? E o que somos nós que perguntamos e vivemos  todas essas coisas?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Blogs e sites sobre o ensino de filosofia

Páginas da filosofia - Blog português de filosofia rico em textos filosóficos, vídeos , reportagens, matérias. Programas de filosofia.

A filosofia no Ensino Secundário - Blog de divulgação da filosofia e do seu ensino no sistema de ensino português. O blog pretende constituir uma pequena introdução à filosofia e aos seus problemas, divulgando livros e iniciativas relacionadas com a filosofia e recorrendo a uma linguagem pouco técnica, simples e despretensiosa mas rigorosa.

Idem  - 

A arte de pensar - Blog de Portugal com textos sobre o ensino de filosofia, textos elaborados como avaliação dos alunos de filosofia do ensino médio. 

A busca pela sabedoria - Excelente blog português, com textos bem escritos em diversas áreas. 

Escolas filosóficas - Blog brasileiro, com aulas de filosofia, provas, apresentações.



Empregabilidade em filosofia


Vitor Guerreiro no blog da Crítica chamou a atenção para um interessante artigo que mostra o crescente mercado de emprego para licenciados em filosofia no mundo anglófilo. O que o artigo diz não é nada de novo. Resumidamente refere que a licenciatura em filosofia habilita os estudantes de capacidades analíticas e críticas que são muito aproveitáveis no mundo dos negócios. Ora bem, isto soa estranho no nosso país por duas razões especiais:
1) Porque existe o preconceito generalizado de que a filosofia não serve para ganhar dinheiro. Aliás, um dos clichés de muitos licenciados em filosofia é que foram para o curso por pura vocação e não para ter um emprego (cliché usado por muitos que fazem da filosofia o seu primeiro sustento). A vocação é sem dúvida importante e nem toda a gente tem vocação filosófica. Mas não há problema algum em fazer da filosofia uma fonte de rendimentos. Eu faço ao ensinar filosofia e estimo a minha profissão precisamente porque me pagam para estudar e ensinar o que mais gosto, filosofia.
2) A. Porque os cursos de filosofia em Portugal pura e simplesmente não desenvolvem qualquer capacidade crítica nos estudantes. O que desenvolvem é admiração cega pelos pavões. Por muito desagradável que possa ser, a realidade é esta. Na maior parte das disciplinas dos cursos de filosofia, o estudante limita-se a seguir a tese do mestre, sem qualquer possibilidade de a discutir.
B. as teses dos mestres dos cursos de licenciatura em filosofia em Portugal não são também, na maioria das vezes, sequer, teses que se discutam porque não obedecem a qualquer estrutura do discurso argumentativo.
Por estas razões que aqui toscamente abrevio, quando falamos de filosofia não estamos a falar do mesmo se nos referirmos a Portugal e aos Estados Unidos, por exemplo. Aliás, o artigo refere a importância do estudo da lógica formal. Ora o estudo da lógica nos cursos em Portugal aparece como uma disciplina isolada que não tem qualquer aplicabilidade nas restantes disciplinas. E não tem pois os outros mestres nem sequer sabem lógica, desprezando-a.
Finalmente uma observação: já por diversas vezes referi que não interessa se os mestres da filosofia em Portugal fazem ou não estudos singulares e bons. Sobre isso nada tenho a dizer. O que coloco em causa é que os estudantes não foram estudar filosofia para se tornarem admiradores dos mestres, logo, não tem que levar com as suas teses mais sofisticadas. Tem de ter a base e é essa base que os mestres deviam ensinar, dotando os estudantes das capacidades básicas para poderem eles também, um dia produzir as suas teses. Muitas vezes ouço profissionais da filosofia queixarem-se que o mundo de hoje não está preparado para compreender a filosofia. Não alinho neste discurso e ele é até falso, já que nunca como nos nossos dias existiram tantos cursos de filosofia e tantos filósofos, de resto, exactamente o mesmo que se passa com a ciência. Agora é possível que a imagem pública da filosofia em Portugal ande bastante por baixo. Mas isso não se deve a que as pessoas não liguem à filosofia. É que a filosofia que se pratica nos nossos cursos não desperta qualquer interesse para a maioria das pessoas e assim não é de estranhar que os cursos fechem e que a filosofia do 12º ano tenha tido uma morte sem ninguém se dar conta, nem mesmo os mestres da universidade, que desprezaram tanto o secundário, mas que sempre viveram na sombra dele. A seu tempo regressarei a estes temas.
A imagem é do performer Stelarc
 Texto original aqui

Por que o mundo precisa de filosofia? (Parte 4)


Retomo mais uma vez o árduo trabalho que a realidade, com suas nuances, prática, consumista, imediatista, utilitarista me impulssionou  a adentrar. Tendo como chave a seguinte pergunta: Por que o mundo precisa de filosofia? Nas partes (1,2,3)  tratei de relatar e discutir os caminhos que me levaram a esse problema de definir a necessidade, ou, as necessidades da filosofia, também fiz um pequeno roteiro histórico, mostrando os tempos em que esta, a filosofia, reinava e ditava os rumos das demais ciências. E finalizei a parte 3 com a pergunta por que a filosofia foi relegada a situação de um saber sem utilidade?
Não vou descrever a sociedade na qual vivemos, tão pouco adentrar no pensamento de filósofos, sociológicos ou educadores que tomam a defesa da filosofia apontando teses e contra teses, simplesmente tratarei de mostrar  
alguns pontos essenciais que  intencionalmente e circunstancialmente colocaram o ensino e a prática da reflexão filosófica a margem.
Primeiro insisto em afirmar que embora esse seja um fenômeno mundial, ou seja, os descréditos com a filosofia e as ciências que refletem sobre o comportamento, a sociedade, é também uma realidade que o dito descrédito, afeta muito mais os países onde o número de analfabetos é maior. Pois, ainda que queiram afirmar que o ensino da filosofia sede lugar para o da tecnologia nos países desenvolvidos, não poderá, os sofistas modernos, sustentar esse discurso por muito tempo, pois a filosofia tornou-se uma base de sustentação teórica para as ciências, sobretudo nos campos da filosofia da mente, da linguagem, dos conceitos, da lógica. Isso posto, percebemos que é um discurso que não se sustenta. Eu penso ser mais coerente o discurso que recai sobre outros pressupostos, tais: A intenção de excluir da formação a capacidade humana de criticar, analisar, refletir, o que necessariamente produz um ser humano apto para uma sociedade que alimenta a corrupção, as mazelas sociais e que convive nela sem perceber que são eles que mantém, muda, ou constrói a realidade. Isso se prova, por exemplo, no fato que recai sobre a exclusão das disciplinas sociologia e filosofia das instituições de ensino dos países cujo governos são ditatorias. Outro fator que justifica o descrédito da filosofia é a emergência que se dá e tem seu início com as revoluções industriais e tecnológicas, sendo essas emergências a da compreensão de que não a mais nada para descobrir, pois o homem chegou a idade da razão, do positivo, cabendo unicamente fazer ciência. Outro fator, simples,  mas de grande importância, está afeito ao fato de que em uma sociedade da velocidade, da correria, do que é urgente, o agir está em detrimento do ser, refletir e pensar. pois para pensar , refletir, criticar, requer tempo,  enquanto o que é valorizado é o reproduzir, ou no máximo o produzir.
Mas, ainda que todos esses fatores sejam reais, o que muitos não sabem é que a filosofia continua alí, andando ao lado deles em meio de toda essa correria, como uma sombra acompanhando um cego. Isto porque a filosofia está nos mais diversos campos da vida humana, com isso digo que estamos com os elementos da filosofia, ou as atividades básicas da filosofia, mesmo sem saber. Não sabemos que quando perguntamos a hora as pessoas estamos mostrando que acreditamos na existência do tempo e que as coisas e o mundo é regulada por ele. A questão do tempo e de sua existência é um tema filosófico. Quando perguntamos a alguém quem ela é, acreditamos que aquela pessoa tem uma identidade, ela é alguma coisa, que é somente ela e mais nenhuma outra. Eu creio, com essa pergunta que posso conhece-la. Quando dizemos que alguém está mentindo é que acreditamos que existe a verdade, ainda que não saibamos qual o fundamento para que algo seja verdadeiro, temos em nós a noção de que uma verdade existe. Dizemos constantemente, isso não é real, você está iludido. Você perdeu a razão. Ora, quantos elementos filosóficos embutidos em nossas falas cotidianas e não sabemos. Mas não paramos por ai, não sabemos que a lógica do computador que usamos é uma lógica que remonta os tempos áureos da filosofia e está bem descrito na monadologia de um filósofo alemão chamado Leibniz. E por último, não percebemos que a ciência busca para seus objetivos e propostas as respostas já analisadas e encontradas para a filosofia, método, racionalidade, objeto, conhecimento, não é campo de investigação da ciência, mas da filosofia, entretanto a ciência se vale do anonimato da filosofia para fundamentar seus experimentos, pense que Descartes era filosofo, mas seu método é tão vivo na ciência atual e não é por acaso que existe a filosofia da ciência nos departamentos de física.
Enfim, chegamos a mostrar como e porque a filosofia é detentora desse engodo de não útil e também que na verdade ela é tão presente nas nossas vidas, mostrando e exemplificando seus elementos tão fortes nas nossas práticas costumeiras e também, tão rica para o trabalho dos cientistas. Na verdade estamos cheios de filosofia, é uma pena também não percebermos. Na sua casa existe uma série de aparelhos que funcionam graças a lógica filosófica.  Mas não chegamos, com isso, necessariamente ao ponto que nos propomos a responder: Por que o mundo precisa de filosofia? Mas essas, serão passagens, para nossa próxima e última parte.

Clique aqui para visualizar a parte 4

O que é isso, o sujeito na contemporaneidade?

Hanks Steve. The Thinkers (private collection)

O que é isso, o sujeito na contemporaneidade?
Por Cleidson de Oliveira*

É quase unânime, na área de filosofia e mesmo nas ciências humanas, a compreensão que consiste na seguinte afirmação: a proximidade, causa uma dificuldade para definir esse momento e esse sujeito desse momento, isso se justifica, pois não temos distancia suficiente para definir em sua totalidade o que é esse sujeito e essa contemporaneidade, também a isso insiro aqui um certo comodismo e segurança com o estabelecido. Mas, essa apória não pode, nos afastar das perguntas já levantadas por Foucault em um comentário de um ensaio de Kant, sobre "a questão do presente, a questão da atualidade: o que é que acontece hoje? O que acontece agora? E o que é esse “agora” no interior do qual estamos, uns e outros, e que define o momento onde escrevo?
Kant escreve um livro intitulado "O que é isso o iluminismo?" Para Foucault, com essa pergunta Kant cria os limites entre a modernidade e a contemparaneidade, por crer que o elemento principal que marca o contemporâneo está na interrogação crítica feita pelo sujeito  contemporâneo, no uso de sua razão, em torno de uma analítica do presente, uma ontologia de nós mesmos, parecendo-me que essa escolha na qual nos encontramos confrontados atualmente é a seguinte: pode-se optar por uma crítica que se apresenta como uma  analise da realidade em geral, ou bem se pode optar por um pensamento crítico que toma a forma de uma pergunta de nós mesmos e de um saber da atualidade, é esta forma de pensar e criar bases para a praxix que de Hegel à Escola de Frankfurt, passando por Nietzsche e Max Weber, fundou uma forma de reflexão a qual chamamos de contemporaneidade e que possibilita a ação desse sujeito da história.
Bom, eu escolhi até aqui essa linha, um tanto centrada em uma questão da filosofia, para mostrar que essa pergunta, feita lá no século XVIII vai ser esse "pano para as mangas" que estamos a refletir hoje. Assim, fazendo alusão ao textos e a pesquisa dos filósofos anteriormente citados, lanço essa pergunta: O que é isso, esse sujeito da contempareneidade? E valho-me dos elementos usados para questionar o iluminismo para guiar-me na reflexão em torno dessa questão. A época em que vivemos é diferente da modernidade, embora seja filha dela, e os elementos que definem essa contemporaneidade são, o entusiasmo na ciência e nas técnicas, moldadando a realidade natural e cultural, dando a essas um aspecto virtual, artificial, mas esse entusiasmo vem perdendo vigor quando percebemos o quanto o mal uso da ciência e das tecnologias pode nos levar, como diz Boff, "ao fim da aventura humana na nave chamada terra" e também da ausência de liberdade por um engodo da sua plenitude, assim, dessa reflexão nasce a filosofia ecológica, os movimentos holísticos,uma consciência ambiental. Entra também nos elementos da Contempareidade e do sujeito contemporaneo, a questão da industria cultural, da mídia, da comunicação digital, que disse Horkheimer, pode, por seu uso, auxiliar na construção de uma sociedade mas humana, ou leva-la a destruição. Aqui, seguindo este pensador, insiro a razão crítica e a razão instrumental, fazendo a relação com o que fora citado no capítulo 3 do módulo quando fala do sujeito da contemporaneidade, um agente da história e um sujeito a sua margem e o que Kant vai chamar de, sujeito da luz, ou da razão, em oposição ao sujeito da menoridade. Essas classificações podem ser resumidas em: O sujeito que reflete, analisa, busca compreender o que está acontecendo hoje e o que se é no hoje, encontrando as possibilidades de atuação, construção e recontrução, frente ao sujeito passivo, preguiçoso, que a história passa e também todas as discrepâncias da contradição e luta histórica recai sobre ele. Ligando isso a questão da educação, veremos que, ser um professor atuante é ser um professor da sua época, a par das transformações e novidades, não só para usa-la, ou para fazer elas funcionarem, estando na dimensão da razão instrumental, mas refletindo e criticando-a, para construir com essas ferramentas um mundo justo e sustentável. Pois aqui, vale tanto o conhecer, sentir e compartilhar, para construir.

*Blogger: conviteaofilosofar.blogspot.com
e-mail. conviteaofilosofar@gmail.com

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA

O programa português, Câmara Clara, promove uma discussão em torno da importância da filosofia, mostrando, a partir da experiência de uma professora, homens políticos e um engenheiro, o quanto a filosofia pode enriquecer as nossas vidas e o que se perde ao abandonar o ensino da filosofia e conhecimentos afins. Veja aqui o vídeo.

A CLÍNICA DE DISCUSSÃO - Monty Python

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Por que o mundo precisa de filosofia? (Parte 3)



Nas minhas andanças em busca da identidade e da funcionalidade fui obrigado a assistir o caminhar da história e neste caminhar percebi como dessa curiosidade humana que se concentra, talvez, num primeiro momento em questões metafísicas, religiosas, tais, da existência de Deus, da alma, passando pela organização e funcionalidade do mundo até a organização das cidades e da prática ou conduta humana, nasceram todos os demais saberes, aqueles que futuramente viriam analisar os seres vivos, a saúde humana, a organização do estado, a mente do homem e seu comportamento em sociedade. Mas, tudo isso adveio da necessidade humana de se perguntar, de questionar, de refletir, de analisar. E saindo dessa necessidade e capacidade humana ela se desmembrou em várias outras disciplinas, estudos, com seus objetos específicos, construindo-se cidades com arquitetura e engenharia complexa, máquinas, teorias avançadas acerca do funcionamento da mente humana, entre tantas outras invenções. Mas, enfim, onde reside o problema, onde está o ponto de Arquimedes, que fizera com que esse motor (a filosofia) que, de certo modo, deu funcionamento as coisas, venha a ser ignorada? E por que ela foi relegada a condição que está hoje? 

Por que o mundo precisa de filosofia? (Parte 2)

Após minhas reflexões em torno da poesia e da música,cheguei a um ponto, no qual não poderia recuar, pensei que, até então, tinha começado o questinamento acerca da filosofia não pelo verbo, mas pelo substantivo, assim,  lembrei-me de Kant e de sua revolução e a filosofia enquanto amor passou a ter sentido pois aprendi com o poeta a essência do "amar amando", logo, seria mais conveniente questionar o que é isso o filosofar? E não só, digo mais, questionar o porque da pergunta acerca da utilidade e identidade da filosofia. Por acaso alguém pergunta para que serve a biologia? O portugués? A matemática? Veio-me desta meditação que por trás dessa pergunta vinha uma certa concepção de que não havia utilidade na filosofia e que essa prátca é como diz, desde o tempo de Táles, distração de um louco, pessoa que "vive no mundo da lua". Essa imagem já começa a se constituir na Grécia, por exemplo, neste período já circula nas cidades gregas a famosa história do falecimento de Tales, de que ele andava meditando acerca do primeiro princípio e caiu em um buraco, ou a de Sócrates que andava a filosofar sempre com a cabeça nas nuvens. Parece que, desde esse momento a filosofia se mostra como um algo que merece escárnio. Mas isso deriva da natureza da filosofia? Será ela um que sem sentido, uma espécie de veículo para o além? E nada tem a oferecer de prático? Ou, tão pouco tem, que se torna invisível? 

Por que o mundo precisa de filosofia? (Parte 1)

Koninck. A Philosopher (1635, Madrid, Museo del Prado)

Creio que a pergunta mais desconcertante que se possa fazer a um filósofo, ou a um estudante e mesmo a um professor de filosofia é: "Afinal, para que filosofia?" Numa tentativa de expressar o sentimento que nos acomete neste momento, posso igualar ao sentimento advindo da pergunta que todas as crianças quando pequenas receberam: "O que você quer ser quando crescer?" Um nó nos toma a garganta neste momento e nos invade um calafrio. Parece uma pergunta tão boba, mas realmente é uma pergunta intrigante. Não raro, nos tempos de faculdade, via muitos mestres e doutores em apuros diante destes questionadores de plantão que, na maioria das vezes, não se contentavam com essa pequena pergunta e, vendo o ponto fraco do seu oponente, desfechava o golpe mortal com a perguntinha mágica: "E o que é filosofia meu senhor?". Desta forma, percebi que teria que encontrar explicações, boas explicações, caso quisesse me livrar do calcanhar de Aquiles dos filósofos. Então, boa parte do que fiz na acadêmia fora buscar funcionalidade e identidade para o que eu fazia. E assim iniciei meu percurso e analisando a história, percebi que a questão de dar uma utilidade e um sentido a filosofia é tão velha quanto as Pirâmides do Egito, e me concentrei nas respostas mais novas e as mais conhecidas, desde aquelas que dizem: "Ora essa, filosofia é o amor a sabedoria", ou até mesmos as que diziam que ela é um segredo impenetrável. A primeira, por mais poética que venha a ser, a meu ver, não nos tira tanto do problema, pode até servir como uma descupazinha, mas imaginemos que nos  deparamos com um advogado cético, ou com aquele pai da sua namorada que é médico e quer te ver a todo custo longe da filha dele e te enche com perguntas e mais perguntas para no final dizer: "você deveria ter feito advocacia, engenharia" e todas as outras "ias". Essa resposta não nos ajuda muito, até porque ela nos leva a questionar que amor é esse? O que difere ele dos demais amores? Será que é igual ao amor de Romeu? E ai vamos nos deparar com Djavan, é um "amor que não cabe em sí" e com isso caimos na poesia, na música.

CONVITE AO FILOSOFAR

Caspar David Friedrich - Gebirgige Flusslandschaft (Nachtvision) (um 1830-35)

Em 2010, um ano após iniciar minhas atividades como professor, percebi algumas necessidades pertinentes a realidade docente atual e a realidade dos estudantes da era da cibernética: havia um novo espaço de discussão de ideias, de aprendizagem, um espaço multidisciplinar, onde é possível compartilhar pensamentos por meios mais diversos: vídeos, sons, textos, imagens, e esse espaço é bem explorado por aqueles que nasceram praticamente dentro dessa realidade, os nativos digitais. Os adolescentes do Ensino Médio que frequentavam as aulas de filosofia conheciam bem o Youtube, o Facebook, blogs e tantas outras redes que preenchia o tempo livre deles e eles utilizavam isso, não só para se divertir, mas também para aprender. 
A proposta que tracei para mim quando ingressei no curso de licenciatura em filosofia era a de ser um professor diferente, essa diferença dizia respeito a responder as seguintes perguntas: "Como gostaria que meu professor fosse?" "O que gostaria de aprender e como gostaria de aprender caso fosse meu próprio aluno?" Com essas perguntas decidi que seria o professor que gostaria de ter quando era estudante. Foi assim, com essa mentalidade que comecei minha atividade docente. Imagina... de início foi um fiasco. Mas não demorei para perceber que eu estava pensando com a cabeça do aluno dos anos 90, com os costumes daquela época e preparando aula antiquadas, assim se quisesse ter um pouco mais de atenção dos estudantes precisava compreender o mundo deles, fazer parte da tribo, e para isso precisava enriquecer meu vocabulário com algumas palavras usadas pelos jovens e saber usar ferramentas de aprendizagem e diversão que eles usavam. Foi assim que descobri os sites de jogos, sites com aulas de violão, aulas de matemática no Youtube, grupos de discussão no Facebook e fui adequando as minhas aulas a essa realidade, casando os conteúdos de filosofia necessários para a formação de um sujeito crítico e reflexivo com as Tecnologias da Comunicação e Informação. De início comecei como expectador, mero observador, olhava como os jovens usavam essas ferramentas digitais, até que paulatinamente decidi inserir em minhas aulas vídeos, músicas, apresentar as aulas em power point, prezi, activinspire. A aceitação dos estudantes foi imediata e o resultado foi expressivo. Assim a essa altura já não era mais uma questão de preparar aulas ou de ser um bom professor, mas era uma maneira de entender uma realidade que já estava inserido nela, a realidade da era digital, da cibercultura. Para compreender e explorar essa realidade que nasceu o blog Convite ao Filosofar, no início ele era um espaço para expandir o conteúdo trabalhado em sala de aula, uma área onde os estudantes poderiam encontrar materiais multimídia sobre o conteúdo estudado, em seguida passou a ser um espaço onde os estudantes ajudavam também a construir a partir de elaboração de trabalhos no próprio blog e ou comentário de postagens. Confesso que o blog já foi utilizado até com fins avaliativos dos estudantes. Hoje ele tem uma função muito diversificado que vai de uma ferramenta de interação com os estudantes, exposição de minhas ideais sobre educação, filosofia, ecologia, sociologia e outros temas, como também espaço para interação com outro educadores. No blog é disponibilizado meu Programa de Ensino, algumas aulas, projetos que realizo com os estudantes, postagens com temas diversos filosóficos ou relacionados com a filosofia. A forma de escrita utilizada é a mais próxima possível de uma linguagem acessível aos estudantes, sem deixar é claro, de ser coerente com as normas gramaticais e com a busca pela elucidação de temas e problemas de ordem filosófica. Assim no passeio por uma filosofia leve mais comprometida convido vocês a filosofar.