sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A perfeição do espírito em Descartes e a proposta da filosofia

Somos muito apegados a perfeição. Até quando não pensamos em ser perfeitos, acredita-se, ser este um mecanismo de defesa para inibir a nossa ânsia pelo posto de um deus. Embora alguns jurem que "perfeito só em Deus", ou mesmo que "a perfeição é impossível", vivemos com essa sombra de "ser sempre melhores", como um demônio que vive a nossa espreita, se bem que para muitos é um demônio bastante desejado. 
A perfeição pode ser uma exigência que se busca em algo externo, seja ele humano, ou mesmo inanimado, ou uma auto-exigência. Assim permeia, ainda que de forma romanesca, na cabeça de muitas mulheres a figura do famoso "príncipe encantado"; aquele mesmo montado em um cavalo... Na cabeça do homem o sucesso de ter várias donzelas a seus pés, bastante músculos e poder. 
Se quisermos ser contemporâneos realmente podemos imaginar essa perfeição em riqueza, beleza e poder. E isso, essa ganância não tem sexo. Atinge homens e mulheres.  
Filósofos, psicólogos, teólogos e mesmo cientistas, foram fundo na busca de explicação para essa dimensão humana, tão enraizada. E tentaram responder a essas perguntas: O que nos motiva a essa ânsia da perfeição? De que modo nos atrapalha e de que forma nos ajuda? É claro que podemos consultar um pouco do que Freud, Nietzsche, Platão, Santo Agostinho e outros escreveram sobre esse assunto. Mas aqui iremos analisar um pouco do que falou Descartes sobre a perfeição, ou melhor, "a perfeição do espírito".

Para este filósofo, no tocante as capacidades cognitivas, racionais, todos somos, em essência perfeitos. Isto é, todos somos dotados de razão, da capacidade de pensar, "cogitar". Todavia, o que nos distingue um dos outros é a forma como direcionamos essa razão. A forma como direcionamos a razão, Descartes denomina de método. É claro que para ele, a razão, precisa ser disciplinada, não que ela seja per si indisciplinada, mas é que as paixões, próprias da nossa natureza humana e fruto dos impulsos do mundo, tendem a regalia.

Para o filósofo um bom método, ou uma boa forma de conduzir a razão está afeita ao bon sens, bom senso,  que consiste em separar, distinguir o verdadeiro do falso.

Com isso o filósofo frances não quer dizer que todos sejam necessariamente iguais em suma, não mesmo. Até porque ele reconhce as diferenças culturais, históricas, isto é, tudo que empiricamente forma nossa subjetividade. Mas, além dessas diferenças o próprio espírito perfeito possui sua estrutura que é diversificada na multiplicidade dos seres humanos.

O espírito perfeito possui três atributos, que o filósofo define da seguinte maneira:

1 - o pensamento, que consite na capacidade de pensar, inteligir, neste campo a qualidade é a prontidão e a precipitação é um defeito. Realmente é comun encontrar pessoas que conseguem ser muito boas para resolver situações em que exigem raciocinios e fazem isso de forma rápida, entretanto, não raro, essas  pessoas caem em equivoco quando tentam acelerar a capacidade de inteligir, isto é, se precipitam,.

2 - A imaginação é a segunda capacidade do espirito, conhecemos pessoas que tem serias dificuldades para resolver questões lógicas, problemas matemáticos, que todavia, são notaveis em criar histórias, ligar imagens e construir situações novas e criativas. Quem não conhece um colega que é músico, ou desenhista, poeta. Eles realmente usam muito bem essa faculdade. A qualidade é a nitidez e a distinção, o defeito está em imaginar questões que ultrapassam o campo da realidade e que ainda assim eles afirmam e mesmo querem provar a existencia ou tornar a existencia daquilo que só existe na cabeça das pessoas dadas a imaginação.

3- A memória é o terceiro atributo, ela consiste na capacidade de armazenar informações, dados. Sua qualidade é a amplidão, isto é a capacidade de guardar cada vez mais informações e de atualiza-la constantemente afim de que a mesma não caia em esquecimento, o que representa o defeito deste atributo.

Somos distintos neste campo do espírito, uns são melhores na imaginação, mas pecam no pensamento, outros no pensamento mas pecam na memoria, nunca teremos a perfeição exata, ou a medida exata em cada uma. O papel da filosofia e da pessoa que se propoe a filosofar esta na capacidade de perceber nossas qualidades, em que somos mais fortes e de que forma eu posso usar essa fortaleza para preencher uma lacuna, ou de ir, por meio da minha qualidade preenchedo e potencializando cada vez mais a lacuna que tenho em outra área.

Por exemplo: uma pessoa que não é boa em memória, mas que tem uma capacidade melhor na imaginação e com isso ela cria histórias, desenha, produz poemas. Ela pode perceber e usar sua capacidade de imaginação como incentivo para memorizar, basta que a mesma, por exemplo passe a memorizar seus poemas para declamar, ou suas músicas para cantar. Esse é um caminho inteligente, um uso do bom senso. Por isso para Descartes, mas importante que a exigencia do espiríto perfeito, ou da perfeição focada nos resultados está o caminho, a forma para atingir o resultado. Esse caminho não é necessariamente o mesmo para todos, mas ele será o melhor, uma vez que tenha precedido um momento de meditação e reflexão.


 

2 comentários:

DEFERIDO disse...

Sinceros aplausos. Encontro em suas palavras perfeição em descrever a própria. As vezes as pessoas na busca de serem perfeitas, quem sabe para conquistar, ser prestigiadas, elogiadas, acabam em incansadas e frustrantes maquiagens, que podem demolir a essência do que é ser bonito, do é ser belo. Enquanto não difundirem o verdadeiro sentido da perfeição, o verdadeiro valor das pessoas não por estica, mas por essência, talvez boa parte, sente, talvez idosos que buscaram a perfeição, talvez jovens frustrados, mulheres reprimidas, pessoas egoístas, pessoas imperfeitas e cheguem a conclusão de que ser perfeito é exigir '' não existir ''. Mas uma vez repito que a verdadeira perfeição é invisível ao olhos.
By. Milena Miranda(sua aluna)

Cleidson de Oliveira disse...

Sim, muito bem Milena, são sábias suas palavras e realmente estão carregadas de filosofia, carregadas de diálogo e convite, convite para prosseguir filosofando, convite para prosseguir no rastro deste enigmático tema chamado perfeição do espírito. E para tornar nossa ciranda contemplativa mais interessante trouxe um amigo da sabedoria lá do início da modernidade para falar sobre essa tal de perfeição do espírito e qual o papel da filosofia em tudo isso. Aceita o convite para esta invstigação da natureza humana? Se aceita releia o texto, agora quase que finalizado.
Te espero! Abraços.

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