segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Poço encantado: uma viagem por nossa humanidade

A criança é a inocência, e o esquecimento, um
 novo começar, um brinquedo, uma roda que gira
sobre si, um movimento, uma santa afirmação
.
Nietzsche

Na infância manifestamos um sentimento que se aproxima muito da claustrofobia. Quando somos criança temos medo dos lugares fechados, temos medo de ficar sozinhos, temos medo do escuro e temos medo do que fica em local escuro, fechado e abaixo no subsolo. 

Porão, caverna, poço e buraco são sinônimos de perigo, sinônimos de assombro. É algo que deve ser evitado se não pode ser isolado ou esquecido. Crescemos com essa opinião e passamos a vida evitando os porões, buracos... e cavernas. 

A construção imagética que fazemos desses locais é tão forte que se transforma em dimensões simbólicas, conscientes e inconscientes, desdobrando, na idade adulta, em um compartimento "porânico" (me permitam o neologismo aqui) na nossa vida, na nossa existência. Esse compartimento é uma parte de nós onde lançamos, de forma voluntária e involuntária, as lembranças duras que vivenciamos. O porão-caverna-poço físico da nossa infância ganha uma dimensão imaterial e passa a habitar nossa alma, nosso coração, nossa memória. Recorremos a muitos artefatos para isolar a figura do porão que se manifesta de tantas formas. O entretenimento, a diversão, são fugas desenfreadas nas inúmeras tentativas de exílio do porão. 

domingo, 12 de outubro de 2014

Afirmar a vida filosofando

As pessoas mais sábias que conheci foram/são aquelas que viveram/vivem como as que menos sabiam/sabem. Essas pessoas se apresentam perguntando, chegam com a mão vazia, com um sorriso. Preso a aparência, você até, de alguma forma, ignora. Mas, basta algumas perguntas, algumas palavras, alguns gestos para entrar no mundo delas, ser arrastado para o mundo delas e prendê-las em seu mundo.

Essas pessoas ensinam aprendendo e fazem dá sua vida um convite constante, um leve e profundo convite existencial. Quem aceita o passeio em contato com essas pessoas, certamente ficará cativo, cativo desse diálogo.

É assim que gosto de pensar/lembrar Rubem Alves, Hugo Kutscherauer, Leonardo Boff, Sócrates, Epicuro, Sartre. Alguns conheci pessoalmente, outros, conheço por suas obras, ou por obras de admiradores e críticos.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Será o amor uma falácia?

Photo de Luis Machado
O amor é ou não é uma falácia? Eu me arrisco a dizer que não. Entretanto, em tempos de crise, onde o navio das relações amorosas encontra-se a deriva e a linha que une o início e término do que se supunha ser o "amor da vida" é tão tênue, acredito ser interessante refletir sobre as questões que dizem respeito ao amor na era da"modernidade líquida".
O título do texto é falacioso, todavia, o texto em si é um convite interessante para perceber as falacias que usamos ou aceitamos nas mais diversas situações, ao mesmo tempo o texto é um passeio leve por questões importantes de lógica e argumentação, o que possibilita uma sensibilização quanto a necessidade de pensar bem, pois, "pensar bem, nos faz bem", sobretudo para o coração. Boa leitura! 

O Amor é uma Falácia

Max Shulman

Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos.
Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar a alguma idiotice só porque os outros a segue, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto, não pensava assim.
Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: apendicite.
- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico.
- Couro preto - balbuciou ele.
- Couro preto? - disse eu, interrompendo a minha corrida.
- Quero uma jaqueta de couro preto - disse.
Percebi que o seu problema não era físico, mas mental.

domingo, 11 de maio de 2014

O ENEM e a filosofia

A filosofia tem sido cada vez mais frequente nas provas do ENEM e sua presença não se resume a quantidade de questões que em 2013 foram 6, mas encontramos textos e temas filosóficos tanto em questões de outras áreas, quanto na redação. As questões de ordem filosófica aparecem no caderno de Ciências Humanas e suas Tecnologias, que ocorre no primeiro dia de prova.  Até 2010 as questões eram elaboradas de forma a cobrar muito mais a capacidade interpretativa dos estudantes e seu conteúdo quase sempre se resumia a política e cidadania, entretanto, desde 2012, quatro anos após a sanção da lei que obriga o ensino de filosofia e sociologia no Ensino Médio, é exigido que o estudante conheça o pensamento dos principais filósofos e os principais temas e problemas filosóficos. Em 2013 no mínimo duas questões exigiram uma capacidade além da habilidade interpretativa do estudante, uma delas trazia um texto de Aristóteles do livro A Política, nesta encontrava-se um trecho da obra do autor, onde o mesmo falava diretamente sobre a felicidade, a resposta correta desta questão exigia um prévio conhecimento do pensamento do filosófico grego. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

Vadiagem com o pensamento: uma modalidade do ócio filosófico

Quando era criança gostava de ficar parado fitando o horizonte. Algumas linhas que interrompem uma visão horizontal são sempre um limite para a imaginação; existem algumas que consigo lembrar bem, a linha horizontal oceânica, a linha horizontal de um cerrado, a linha horizontal no cume de uma montanha. Embora tenham suas especificidades todas elas, de certo modo, nos impõe uma interrogação: O que existe além da linha do horizonte? Quando pequeno em minhas elucubrações infantis gostava de pensar mundos que poderiam existir para além do firmamento, passava horas nesta contenda entre o que pode existir e o que posso imaginar.