domingo, 12 de outubro de 2014

Afirmar a vida filosofando

As pessoas mais sábias que conheci foram/são aquelas que viveram/vivem como as que menos sabiam/sabem. Essas pessoas se apresentam perguntando, chegam com a mão vazia, com um sorriso. Preso a aparência, você até, de alguma forma, ignora. Mas, basta algumas perguntas, algumas palavras, alguns gestos para entrar no mundo delas, ser arrastado para o mundo delas e prendê-las em seu mundo.

Essas pessoas ensinam aprendendo e fazem dá sua vida um convite constante, um leve e profundo convite existencial. Quem aceita o passeio em contato com essas pessoas, certamente ficará cativo, cativo desse diálogo.

É assim que gosto de pensar/lembrar Rubem Alves, Hugo Kutscherauer, Leonardo Boff, Sócrates, Epicuro, Sartre. Alguns conheci pessoalmente, outros, conheço por suas obras, ou por obras de admiradores e críticos.

Pessoas assim não inventam "um modo de vida", até porque elas tem concepções e formas de viver diferente, algumas são contemporâneas, outras antigas. Mas, se posso encontrar algumas similaridades entre essas pessoas e algum legado, está em ter vivido de forma plena a vida, de forma a não prender nada, não se encher de nada, mas estar cheias, mesmo parecendo vazias. Isso porque elas estavam/estão sempre abertas. Eram/são, no fundo, uma criança, sempre capaz de se encantar, de admirar e venerar a vida.

Em uma carta, para o cientista e seu conterrâneo Roberto Hooke, Isaac Newton diz: "Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes". Podemos tirar duas definições das palavras de Newton: Ele era um tanto egoísta, a outra é que o conhecimento se dá quando nos sustentamos nas teorias de outras pessoas. A que prevaleceu foi certamente a segunda. Mas, parece que existem gigantes que, embora possam oferecer as costas como apoio, seu pensamento, suas teorias, se aproximam mais da metáfora "Se longe enxerguei foi porque caminhei ao lado de gigantes.  

É uma forma mais poética de traduzir o que Newton falou? Por um viés interpretativo, sim. Mas, pela forma que começamos esse texto, não necessariamente.

A reescritura da famosa frase de Newton coaduna com a forma de viver dos homens sábios que citei. Viver não só como uma maneira de compreender a realidade, de traçar arcabouços epistemológicos, de criar teorias, mas uma maneira sábia de afirmar a vida, afirmar a diversidade. Afirmar o aprender em detrimento do saber.


Neste sentido, como forma de caminhar junto, de companhia, a filosofia, os filósofos, por mais antigos que sejam, ainda são boas companhias. Podemos, não só do ponto de vista histórico, ler Heráclito e encontrar neste a companhia para percorrer a seara da existência, a razão dos conflitos, da ambígua situação da diversidade. Ler Descartes e se embrenhar pela crise da dúvida, tão bem traçada pelo mesmo, chegando a nos convidar a rever nossas certezas de hoje. E assim, podemos caminhar por tantos outros, sendo necessário a humildade de que não ultrapassamos eles, e sim, ao caminhar com eles, descobrimos formas sábias de afirmar o viver.    

2 comentários:

Unknown disse...

A filosofia nos ajuda/ auxiliar a refinar nossos pensamentos. Sendo assim, mostra-nos 'setas' para a construção dos mesmos, seja de modo empírico, racionalista ou se preferir, tornar estes pontos epistemológicos diretrizes no nosso cotidiano. #Filosofia S2

DEFERIDO disse...

Costumo dizer que ler é permitir se desenvolver com realidades e novas perspectivas. É liberta-se eu diria. Contemplo sua obra, sinto-me fascinada pela oportunidade de ter tido um professor compromissado em compartilhar a informação e nos reportar para outras realidades, contribuir para a libertação do intelectual, o aperfeiçoamento das nossas capacidades. '' Essas pessoas ensinam aprendendo e fazem dá sua vida um convite constante, um leve e profundo convite existencial. Quem aceita o passeio em contato com essas pessoas, certamente ficará cativo, cativo desse diálogo'', concordo perfeitamente. E eu diria que caminhar com informação, reconhecer que estamos sempre dispostos a aprender e manusear o que aprendeu é uma arte, meu caro. Andar com pessoas mais inteligentes, não faz de você o mais sábio, faz de você alguém com uma grande oportunidade. E talvez o homem que tenha se ficado em pé nos ombros de um gigante fosse tão pequeno que não pudesse vê nada além do chão, até que alguém o cedeu os ombros. Tento pensar que quem estava em pé nos ombros viu por dois. Talvez quem cedeu os ombros tivesse sido o esperto, aproveitou que alguém não conseguia ver nada além do chão, se ofereceu para ajudar e em troca quem estava em cima via mais longe e poderia ceder a informação. E quem acreditaria que quem só via o chão seria capaz de enxergar mais longe, mais alto, se quem via o chão descobrisse algo que seu apoio não saberia, os outros acreditariam mais em que ofereceu os ombros por ser mais possível. Indo mais longe, possa ser que quem ofereceu os ombros queria apenas demonstrar quão gigante era e quem estava em pé nos ombros percebeu que poderia fazer algo com a pedra que lhe haviam oferecido, lapidou um diamante. Ainda sim com tantas possibilidades prefiro acreditar que quem ofereceu os ombros queria dar uma oportunidade, e quem aceitou, percebeu que grandes oportunidades não devem ser perdidas. O horizonte é mais interessante que o chão, acredito. Na vida é importante contribuir com o que sabe e saber que não sabe tudo. Parabéns pelo texto!

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